Ênio Geraldo França exibe, com orgulho, o registro de número 9 da sua empresa no Conselho Regional dos Representantes Comerciais no Estado de Minas Gerais. A firma em que ele iniciou a sua carreira, há 55 anos, foi uma das primeiras do estado a fazer parte do Core-MG. “Inclusive, antes de existir o Core aqui, nós fomos filiados ao Core-SP. Havia uma certa exigência de algumas empresas pelo exercício legal da profissão de Representante”, destacou.
O Representante ingressou na profissão de forma despretensiosa, em 1962, quando ele tinha 19 anos e havia acabado de prestar o serviço militar. “Uma pessoa conhecida da minha família atuava num escritório de Representação em Belo Horizonte e ele me chamou para trabalhar. Eu saí do interior, em Sete Lagoas, para trabalhar internamente. Com poucos meses, eu passei a atuar na área de vendas, que era a principal função do Representante, porque eu era muito interessado”, contou.
E o jovem Ênio tomou gosto pela Representação. Após quatro anos trabalhando na empresa, tornou-se sócio do local. Nos anos 1990, adquiriu o estabelecimento. “O que eu mais gosto é do contato com as pessoas. Por causa dessa profissão, eu viajei o país inteiro”, afirmou.
“O Representante trabalha ligando e harmonizando duas pontas: do comércio e da indústria”, enfatizou Ênio
Dificuldades antigas e atuais
O Representante contou que já viajou por todo o Brasil devido à sua profissão, recordando as dificuldades enfrentadas para chegar aos locais. “Não existia viagem confortável, era do jeito que dava. Ter automóvel era difícil e caro, e as estradas não ofereciam condições”, lembrou.
Ênio citou a construção de estradas e o aperfeiçoamento da comunicação como as maiores facilidades para exercer a profissão atualmente. “O celular foi a melhor coisa que inventaram, depois da facilidade de comprar automóvel. Antigamente, a gente fazia um roteiro de uma semana, tirava os pedidos e trazia. Não podia ficar muito tempo fora, porque não tinha comunicação”, contou. Por outro lado, ele ressaltou que hoje é mais difícil fazer negociações, devido à concorrência.
Importância da Representação
Segundo Ênio, a atuação do Representante é importante para levar, a diversas regiões, os produtos de empresas que não têm condições de ter uma equipe própria com essa função. “O Representante trabalha ligando e harmonizando duas pontas: do comércio e da indústria”, enfatizou. Ênio também salientou a importância do Core-MG na regulamentação da profissão. “O Conselho tem o papel de unir e fortalecer a classe, abrigando e orientando a todos. Uma vez nós tivemos uma briga com uma empresa, e o Conselho nos deu todo o suporte”. Ele continua administrando sua empresa e atuando na área, mas afirmou que está se afastando aos poucos. “Agora, eu quero passear e viver. Mas não dá pra ficar totalmente parado”, revelou o Representante.
Momentos marcantesÊnio relembrou alguns fatos curiosos que marcaram a sua trajetória profissional. Um deles foi bem ao início, quando ele foi visitar um cliente. “Cheguei ao armazém, havia algumas pessoas no balcão e o dono estava lá no fundo. Ele falou: ‘O que você quer? Pode ir embora, depois eu converso, não posso falar agora’. No momento eu não entendi a atitude dele. Depois descobri que ele tinha jogo de bicho e estava na hora de sair o resultado. Ele estava lá dentro esperando o telefone tocar. Eu ia atrapalhar o negócio dele. Quando soube disso, passei a escolher o horário de ir lá, sem ser o de sair o resultado”, narrou ele, aos risos. Ele também mencionou que um período difícil para trabalhar foi na época em que os produtos com tinham preços tabelados, durante os governos Sarney e Collor. “Era muita tensão. Os clientes faziam pressão querendo comprar e as empresas não queriam vender para não ter prejuízo. Elas preferiam vender na porta, cobrando por fora, prática que era considerada crime. Não tem condições de trabalhar de uma maneira em que quem iria preso é você e não quem está recendo o dinheiro”. Ele relatou como era a rotina do escritório naquela época. “A gente trabalhava assim: os clientes ligavam e encomendavam a mercadoria, e a gente ia tentando arranjar um pouco para cada um. Os vendedores chegavam ao escritório de manhã. Quando dava 8h30 e eles viam que não tinham o que fazer e iam para um bar perto do escritório para jogar sinuca. Eu ficava no telefone negociando a mercadoria e os chamava quando conseguia algo”. |